Hoje escrevo, num dos dias mais difíceis que tive ultimamente, pois o espaço promotor de humanidade que criei em conjunto com excelentes profissionais foi extinto.
Não são muitas vezes em que a profusão de emoções é tanta que não consigo destrinça-las. Mas sinto que estou sobretudo triste. Triste pelo símbolo que este projecto é: uma oportunidade de voltar a encontrar-se, descobrir-se, transformar-se, criar novos cenários.
Triste por todos aqueles que construíram um portfólio de competências, de saber-fazer, de historias, que ouviram e com aquilo que aprenderam com cada adulto que com eles trabalharam, investiram e acreditaram muito mais nos adultos do que eles próprios alguma vez tinham acreditado.
Triste por quem nunca percebeu o que foi este movimento de retorno à escola, tenha o poder de o destruir, para logo mais - quando for financeiramente conviniente - o voltar a construir com um nome diferente.
Revoltada, por viver num país que adoro, mas que peca pela miopia dos seus políticos.
Defraudada por ter investido tempo, afecto, esforço por algo, que tão volatilmente se transformou em pó.
E profundamente chateada, por tudo isto não ter qualquer fundamento.
É um novo ciclo, com um preço demasiado elevado para quem fica desempregado. Como em qualquer situação de mudança as angustias ganham espaço. Um novo ciclo deveria trazer um laçarote colorido de promessas e de possibilidades, mas talvez porque esteja demasiado magoada não consigo perspectivar isso.
Sinto-me, contraditoriamente, feliz. Por todos aqueles com quem trabalhei e conheci, que enriqueceram o meu dia-a-dia, contribuíram para quem sou hoje, e pela equipa fantástica com quem tive o privilegio de trabalhar.
Estou certa que a poeira vai acentar e que voltaremos a ser um centro, não sei se com a mesma energia e espirito. No que de mim depender, todos os que connosco quiserem construir o seu futuro, terão a sua oportunidade.
Disse sempre que os centros novas oportunidades não podiam ser o da última oportunidade, pois isso significaria excluir alguém. Hoje ficaram cerca de mil adultos incapacitados de terminar os seus percursos, porque nos obrigaram a fechar.
Não se (re)constroem países com base na desesperança, descrédito, desconfiança e sem qualquer respeito pelas pessoas. As sociedades, países, comunidades não são entidades anónimas, são constituídos por pessoas com vidas, sonhos, ideias, projectos, problemas, afectos, vontades, famílias, redes. E é tudo isto que faz uma sociedade mais rica. Sem pessoas não há países, sem identidade, sem cultura, sem educação somos apenas uma massa heterogénea de seres que percorre espaços com os quais não se identifica.
O simbólico, aquilo que atribuímos significado é mais importante que o dinheiro. Não vivemos na era do homem economicus. Não quero viver num mundo chinezado, quero os valores europeus de liberdade, igualdade e fraternidade. Não quero o individualismo americano, quero a solidariedade europeia e a humanidade que nos caracteriza.
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