terça-feira, 3 de agosto de 2010

"Nascer pequeno e morrer grande é chegar a ser Homem"

É uma facto que não escrevo há bastante tempo. Muito trabalho e pouca inspiração, ou talvez por achar que não tenho de facto nada de interessante para contar.
A pedido do meu querido amigo Helder Lopes, fã de frases, pensamentos e de novas perspectivas, aqui fica a reflexão sobre a frase que me sugeriu.

"Nascer pequeno e morrer grande é chegar a ser Homem"

Particularmente interessante nesta frase são as antónimos nascer e morrer, e pequeno e grande.
São pelo menos paradoxos aparentes, ou se é pequeno, ou se é grande, ou se nasce ou se morre!! Aliàs são os contraditórios que nos permitem construir a nossa própria noção de identidade. Saber quem somos, só acontece porque sabemos o que não somos.

A frase sugere uma continuidade, uma noção de tempo associado ao trajecto natural do ser humano. Nascemos pequenos e morremos bem maiores do que nascemos. Exactamente o oposto do "Estranho caso de Benjamin Button"de F. Scott Fitzerald e realizado por David Fincher, ou do que defendia Charlie Chaplin que deveriamos nascer velhos e morrer bébés.
Está embuída da noção de ciclo, de renovação, de aprendizagem e de movimento, que na minha perspectiva está associada a algo de positivo, de progresso e de uma visão optimista.

Subentendida nesta frase está a noção de vida, Nascer como o inicio de, e morrer como o fim, ou para alguns (no qual me incluo) o incio de algo novo que é absolutamente desconhecido.
Penso que, não será abusivo, acrescentar que o conceito de sucesso é de certa forma sugerido.
Sucessso no sentido de conquista de etapas, de realizações de aprendizagens, de cumprimento de objectivos, não importa quais sejam, importa os que cada um definiu como seus.

Assumo uma leitura associada à pessoa, ao crescimento pessoal, à construção de um ser melhor, que contribui para a felicidade de outrém. Não consigo dissociar da ideia de "chegar a ser Homem", como um processo de tomada de consciência de si e do impacto que se tem nos outros, como a atribuição de significado último à importância do ser pessoa, da sensibilidade, do processo de aprendizagem pelas experiências, quase sempre feito à custa de momentos de sofrimento.

Aliás, a dor está profundamente associada ao nascimento. Sempre temos momentos de crise nas histórias que constituem o trajecto da nossa vida, que são normalmente momentos de dor, são quase sempre momentos de (re)estruturação, se não de um novo nascimento. Sempre que isto acontece, algo morre em nós, e algo de novo nasce, normalmente melhor, pois só assim sofrer tem sentido.

Ser disponível para viver, significa estar aberto ao que a vida tem para oferecer de bom e de mau, reflectir sobre os seus significados e aprendizagens que nos permitiu fazer a cada momento.Significa aceitar o aleatório como uma certeza, e perceber a nossa incapacidade quase total de controlar os acontecimentos das nossas vidas. É angustiante, mas libertador.

Existem indivíduos, não lhes posso chamar pessoas, com ausência de experiências, de histórias e de vivências. Outros passaram várias situações complicadas e nada aprenderam, tornaram-se frios, insensíveis. Há também quem fique revoltado e quem perca a capacidade de amar. Há também os que medem o seu sucesso pela quantidade de bens materiais que acumularam, mas que se esqueceram do outro no caminho. Existem várias possibilidades.

Para mim nascer pequeno e morrer grande, significa estar de bem comigo e com os outros. Saber que toquei muitas vidas, que tornei outros felizes, que impliquei mudanças, que criei coisas, que produzi, mas acima de tudo me fui tornando alguém melhor e maior. Respeitador das perspectivas do outro, consciente das minhas vontades, desejos e projectos, e sobretudo que continuo capaz de amar.
No final (ou não) - na morte - são os afectos que nos ligam uns aos outros e às memórias que têm de nós. Recordar é uma forma de fazer nascer quem já morreu, e torná-lo grande.

Não sei se te surpreendi!

NSAS
Greathings

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